terça-feira, 5 de agosto de 2008

Entre xícaras e letras


Engraçado. Eu odiava café antes de entrar para a faculdade. E minha mãe sempre me condenava por isso. Um de seus argumentos era o aroma surpreendente da bebida, forte e único. Mamãe celebrava as múltiplas possibilidades do consumo do café. Ele pode ser servido, afinal, de várias maneiras: com açúcar, com chantilly, na versão light, com adoçante; ou então de vários sabores: café sabor menta, café sabor canela. Sim, lá em casa já teve de todos esses tipos. Mas como gosto cada um tem o seu, preferia não discutir.

Os benefícios terapêuticos do copo negro era outra tentativa usada por ela para que eu mudasse de opinião. “O café forma, durante a torra adequada, produtos que ajudam a inibir o desejo de consumir álcool”; “estudos modernos mostram que o consumo regular de café protege contra o surgimento da diabetes do adulto”; “ao contrário do que se pensava, o consumo moderado de café pode fazer bem ao coração”; “o café aumenta a vitalidade e a atenção”; “café: uma arma contra o sono”. Consultas superficiais à internet me ajudavam a contra-argumentar: “A cafeína possui um potente efeito diurético, prejudicando a hidratação em atividades prolongadas”; “a cafeína não representa nenhum valor nutricional para o organismo humano, se restringindo apenas ao seu efeito excitante”; “estudos mostram que 1 xícara de café é capaz de reduzir a absorção do ferro em 30% pelo organismo”.

Mamãe, em sua fase mística, insistia. Falava que era só tomar meio copinho de café com o pó, deixar a xícara utilizada repousando durante uma noite e, no outro dia, naquele singelo recipiente, seria possível ler, através da borra, o meu destino. Sim, meus caros, ela me disse isso. O que eu respondi? Preferi ignorar. Mas os benefícios reais do café eu só vim entender já na faculdade, de jornalismo. Pelo senso comum, o próprio jornalismo está naturalmente associado ao consumo do café. Quando imaginamos um jornalista de redação, por exemplo, logo pensamos num computador velho, num telefone que toca insistentemente, e, é claro, na dupla imbatível, café e cigarro. À nicotina, pelo menos, eu não me rendi.

Foram nos corredores da Fafich que descobri a impressionante capacidade do café em ser um excelente meio de socialização. Quem nunca encontrou um amigo, de repente, e foi interrogado: “Vamos tomar um café?”. Sim, afirmo, com propriedade, conhecimento e sem dúvidas, café é sinônimo de conversa jogada fora, de bate-papo. E não apenas disso. Numa conferência ou seminário, temos um coffee break. A primeira refeição do dia é o café da manhã. Um encontro de negócios é marcado, antes de tudo, pela pergunta: “Aceita um café?”. Essa pergunta, inclusive, parece ter a função de testar o canal de comunicação entre os interlocutores. O que me parece é que quem está oferecendo o café o faz por mera convenção, podendo substituir a pergunta por um: “Oi”, ou, mais diretamente: “Vamos aos negócios?”.

Mas foi o pelo primo rico, o cappuccino, bebida que mescla leite, chocolate e, é claro, café, que a minha relação com este se iniciou. A adesão final se deu nas noites intermináveis em frente ao computador. O pretinho era básico para que eu me mantesse de pé, meu único companheiro da madrugada. Era pressuposto para que eu conseguisse finalizar o trabalho a ser entregue na manhã seguinte. E assim ele me conquistou. Nos meus momentos de fragilidade e desespero, estava sempre presente, me dando aquela força. E agora, leitores, entre um gole e outro de café, eu me redimo e os aconselho: sempre escutem as sábias palavras de suas mães.

Um comentário:

sblogonoff café disse...

Ei, sou alguém que gosta de café.E só aprendi a gostar depois da faculdade!Para ser específica, foi depois da monografia. O efeito psicológico de me fazer não cochilar no período compreendido entre 0:00 às 6:00 (!), fez com que meu consumo aumentasse, a ponto de minha alma ser quase negra hoje em dia!
***
Mas o melhor do café são mesmo seus efeitos sociais, por isso fiz um café vitual. Cheio de xícaras e letras!Rs
Eu só espero que a borra não borre meu caminho. Quero campos descafeínados para manter a sobriedade e algum sono no canto dos olhos para que a realidade seja menos torta.
Torta de chocolate no café da esquina...

Ai, ai... VIva o café pequeno, grande, viva as segundas-feiras, viva a necessidade após o almoço!
De tomar café.

Já esqueci como vim parar aqui...
Depois do meu café, volto para contar!

Sopro de Eves!